quinta-feira, 31 de agosto de 2023

O Movimento e o Manifesto da Arte Piaga

Por Frederico A. Rebelo Torres
Escritor e Folclorista | ALVAL, AHMOCAMPI

Criação de Capotes (Pintura de Rafael Nolêto)
O Movimento da Arte Piaga, concebido pelo jornalista Rafael Nolêto em parceria com um grupo de intelectuais empenhados na valorização da cultura piauiense, assume uma dimensão ainda mais profunda quando entrelaçado à busca humana por religião e mitologias. Esse movimento, como um reflexo contemporâneo dessa indagação ancestral, ergue-se como um farol que ilumina a trilha que une o ser humano à sua herança cultural e à transcendência.


A Arte Piaga, com sua predileção por temas bucólicos, rurais e naturais, não apenas ecoa a relação harmoniosa do povo piauiense com sua terra, mas também semeia a germinação de uma mitologia autenticamente piauiense. Em concordância com a busca por simetria, harmonia e equilíbrio presentes na Arte Piaga, a mitologia figura como uma tentativa atemporal de impor ordem e compreensão ao universo, legado que remonta à influência da mitologia grega no ocidente.

Homem piaga colhendo acerolas (Rafael Nolêto)

A transmissão identitária promovida pela Arte Piaga espelha o anseio humano por pertencimento, um reflexo da busca pelas raízes que também estão no seu cerne. A dimensão devocional que por vezes emerge reflete a aspiração universal de conectar-se ao divino, alinhando-se ao chamado das práticas religiosas.

Assim como explora a intensidade cromática e o contraste visual, também infundem cores e profundidade emocional à experiência humana. A busca por coletividade, como realçado, é intrínseca à humanidade, uma ânsia por fazer parte de algo maior, característica também presente em narrativas religiosas greco-romanas.

A meticulosa exploração de temas religiosos, e folclóricos é uma extensão natural da busca por compreensão universal e identidade, algo entranhado na religião. Ao abraçar a temática rural, ressuscita tradições e tece histórias que não apenas se assemelham, mas também contribuem para edificar uma cultura enraizada.

A adoção de técnicas mistas, similar à diversidade de interpretações encontrada, realça a intrincada complexidade da espiritualidade e das narrativas. A busca pela simplicidade na interpretação reflete o anseio humano por clareza e compreensão, um desejo compartilhado por aqueles que exploram as narrativas.

A celebração de "heróis" locais e figuras de referência fomenta um diálogo entre a mitologia clássica e a identitária, enriquecendo o panorama cultural do Piauí. A ludicidade presente na Arte Piaga, ao inspirar criatividade e imaginação, reflete o fulgor da busca humana por transcendência, um aspecto inerente às crenças.

A recusa ao conflito, um princípio central, uma aspiração pelo entendimento e união, uma vontade que percorre tanto as mitologias quanto o próprio movimento. O foco em temas perenes ressoa com a intenção de transmitir sabedoria eterna, rejeitando a efemeridade em prol do duradouro.

Frederico A. Rebelo Torres, integrande do Movimento Piaga

A preferência por materiais regionais realça a ligação intrínseca entre o Piauí e suas raízes, uma relação que se assemelha às mitologias e às práticas religiosas mundo afora, onde a terra frequentemente é vista como sagrada.

O Movimento da Arte Piaga, em sua trajetória de valorizar a cultura piauiense, enaltece as narrativas míticas e religiosas que acompanham a humanidade através dos séculos. Ao celebrar tradições, espiritualidade e peculiaridades do Piauí, o movimento constrói uma mitologia identitária singular, apresentando uma perspectiva otimista através da qual a busca por transcendência e significado floresce. A arte entrelaça-se com a espiritualidade, e a mitologia piauiense começa a fundir-se ao legado mítico universal, emergindo como uma expressão contemporânea de uma busca ininterrupta por identidade própria.



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